No we can't.


Foi bonita a festa pá, ainda irá ser até Janeiro, mas as ressacas são uma inevitabilidade das grandes bebedeiras.

Caído o pano, desmobilizada a orquestra, apagadas as luzes, acabou o tempo do espectáculo e agora é preciso voltar à realidade do dia-a-dia, que não se compadece com as irrealistas esperanças que Obama conseguiu plantar nos seus mais eufóricos apoiantes, como aquela de "mudar o mundo".

Agora há que regressar à terra porque a crise financeira não se compadece com a retórica da hope e da change.

Nas próximas semanas iremos assistir a um gradual abaixamento das expectativas, de modo a que os apoiantes mais fanáticos, não passem de chofre, da fase maníaca à fase depressiva.

O seu discurso de victória, expurgando a exaltação retórica e as excessivas referências a si mesmo, já o mostra. "O caminho será longo...talvez não cheguemos lá num ano ou até num mandato...haverá retrocessos e falsas partidas...e sabemos que o governo não pode resolver todos os problemas."

Não, não pode, mas durante a campanha, Obama convenceu os americanos que yes we can.

Agora tem de lhes ir dizendo que não é bem assim e que por vezes, no we can't.

O Iraque, o Afeganistão, a crise financeira, o Médio Oriente, o Irão, a realidade, irão inevitavelmente corroer o mito salvífico.

É sempre assim.

Mas algumas coisas jamais voltarão a ser como dantes. Por uns tempos o antiamericanismo psicótico não poderá ser disfarçado com "não sou antiamericano, sou contra esta administração", o "blame America first" perderá o seu carácter apelativo, o que deixará muita gente orfã de um belzebu a quem culpar pelos males do mundo e, na América, os negros perderão a boleia fácil da vitimização racial.

Se um mestiço consegue chegar à Casa Branca pelos seus méritos, se a 1ª dama do país mais poderoso do mundo é uma negra, os factos falam por si .
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