Um símbolo.
Vale e Azevedo, segundo a imprensa, vive luxuosamente em Londres. Desloca-se num Bentley com motorista e habita uma "mansão" de quinze milhões de euros. Vale e Azevedo é um acto falhado da justiça portuguesa. Foi exibido como praticamente o único troféu de jeito da caça à corrupção naquilo que passa por ser a "alta esfera" dos negócios e da fashion people entre nós. Pedro Caldeira, o corretor que foi apanhado nos EUA, ao pé deste é um menino de coro cujos "conhecimentos" lhe foram, também, da maior utilidade. Vale e Azevedo é, assim, apresentado como um herói e não como um vilão. Nas suas mediáticas idas a tribunal era saudado como um redentor dos esfomeados sócios do clube que dirigiu e não como um trafulha. Estas reportagens do seu "exílio" dourado não servem para outra coisa senão para suscitar no leitor - que "pega no batente" às seis da manhã, que não tem tempo para lavar os dentes, que dissolve uma bica e um queque num quiosque imundo da Amadora e que ofereceu um "kit" do Benfica ao filho mais novo - a banal inveja. Vale e Azevedo é aquilo que muito bom português apreciaria ser. A razão do seu "sucesso" é directamente proporcional à miséria instintual do país. No meio de tantos espertos, ele é o espertalhão que os outros espertos não conseguem ser. E isso deslumbra e enraivece, enraivece e deslumbra. "Ele é dos nossos", pensará o tal leitor entre dois arrotos. A diferença é que é Vale quem continua, como fazia nos debates da bola na televisão, a recomendar aos admiradores e à justiça que bebam um copo de água e que respirem fundo. Vale e Azevedo é, na verdade, um símbolo. Representa a derrota da justiça e o triunfo de um certo arrivismo chique que a democracia fez prosperar. Uma, aliás, não vai sem o outro. Ninguém tem por que se queixar.
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