Sopram ventos de mudança na internet nacional. Confrontada com condições de subsistência cada vez mais difíceis e com seca prolongada (não se verifica uma polémica virtual decente há vários anos), a comunidade blogueira empacota os seus haveres e ruma em direcção ao Twitter, nova ferramenta comunicacional da moda, esperando recuperar o vigor de outros tempos. Um dos primeiros a mudar-se foi Francisco José Viegas, cacique intelectual da grande tribo blogueira e detentor da pila mais substancial do 8º Encontro Mundial de Grandes Potências Racionais, realizado recentemente na sua cabeça. “As coisas já não têm aquele sabor de outros tempos”, confessa, com um brilho nostálgico nos olhos. Encontrei-o à porta do seu blogue, guardando a lista de hiperligações em caixas de banana “Chiquita” (a banana preferida por três em cada cinco intelectuais) e aí o deixei, entregue à árdua tarefa e completamente nu, sendo a nudez uma das exigências do culto animista africano a que se converteu recentemente. Mais resistente se tem mostrado outro grande nome blogosférico. Apesar de reconhecer que “hoje em dia, qualquer um pode ter um blogue” e que isso minou a credibilidade do meio, Pacheco Pereira não pretende partir até ser forçado a fazê-lo. Mas tem sido duro. “Um destes dias, fui inundado por uma sequência de comentários insinuando que tenho piolhos na barba,” refere. “Só a necessidade de aprovação prévia dos comentários antes de serem publicados me salvou a dignidade. Além disso, são lêndeas.” Um dos principais obstáculos à colonização da twittosfera é o limite de 140 caracteres por entrada, havendo já quem exija a autorização de mensagens curtas com 80.000 caracteres para permitir a citação de poesia e de capítulos inteiros de obras de Marcel Proust no idioma original.
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