E os direitos dos gatos?


Acuda-nos, Sr. Primeiro Ministro. Acuda-nos.

Que um homem mate a esposa por causa de um filho, tem pouca gravidade. É coisa apenas pré-moderna.

Que um homem mate a esposa porque (ele) apanhou uma bezana, é de pouca monta, coisa bastante pré-moderna.

Que um homem de "raça" preta, ou muçulmano, mate a esposa porque lhe apetece, enfim, é coisa de mau gosto apenas para nós brancos racistas, assunto de faca e alguidar para culturas alternativas.

Que um homem mate uma qualquer gaja casada, mãe de 3 filhos menores, só pode ser uma vã tentativa de afirmação daquilo que qualquer homem pós-moderno sabe: os filhos são, no matrimónio, coisa insignificante.

Que um homem mate uma mãe solteira, já é caso de bradar. Ao fim e ao cabo, trata-se-á de de um vil ataque à instituição monoparental e ao pós-modernismo em geral.

Que um homem mate um homosexual, é absolutamente imperdoável porque abate um militante que bem poderia vir a dinamizar a discussão à volta da adopção por homosexuais. É um gravíssimo ataque ao pós-modernismo.

Que um homem mate por engano, uma mulher, falhando o alvo pretendido, um homosexual, é de bradar aos céus por se ter dado a hipótese de ter atingido um insigne símbolo do pós-modernismo.

Agora, que um homem mate um homosexual por tentar sodomizar um gato (uma gata seria coisa menos rebarbativa), é de gravidade extrema. É tanto mais grave se se perceber que o gato não apresentou queixa e poderia até estar empenhadíssimo na relação. É tão grave que é capaz de abalar todo o edifício do pós-modernismo segundo o Nosso Insigne Primeiro Ministro (por quem soizes) e atirar a toda nossa civilização à época em que se queimavam gatos apenas por desenvolveram electricidade estática na pelagem.

Acuda-nos Sr Primeiro Ministro. Acuda-nos.
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