A maior e mais dolorosa prova da falha do Estado Social que nos obrigam a engolir diariamente e de forma progressiva é a vida, que vida, pergunto-me, que os velhos, sim, velhos, têm depois de uma eternidade de promessas que quase finda para dar lugar a outra eternidade, dizem. Num admirável país que fala de avanços e modernizações, em projectos e em programas, nisto, naquilo e em toda a cangalhada espumada, quais ondas de mar, cheias de mijo de gente e bichos; olhamos para os velhos e sentimos um calafrio com a resignação de tantos. Vivem silenciosos, conformados, pela falta de acção possível, aos ditames dos filhos do país que lhes prometeu, em troca de tanto, muito mais. Promessas incumpridas, redondamente, que os atiraram, nos gloriosos anos de latão, para um qualquer lar clandestino, escondido num bairro escondido, para que ninguém saiba – como se alguém houvesse sem saber. E as vidas passam, os poderes revezam-se, e nós, os filhos ou netos do país que prometeu tanto e tanto aos velhos, fingimos não saber que o mesmo nos espera no futuro. Fingimos que tudo estará bem. Que a vida será bela. Que os fundos e mundos que nos oferecem em brochuras cheias de pinta vai mesmo existir. Tristes, tolos, estúpidos. Mil vezes tristes, mil vezes tolos, mil vezes estúpidos. Todos.
0 comentários:
Enviar um comentário