O lorde do Benfica.



Para mim, que sempre defendi um sistema de castas no futebol português, foi um rude golpe. Custa-me dizê-lo, mas há um lorde no Benfica. Ao contrário do pequeno lorde de Frances Burnett, este não parece ter pedigree, nem consta que saiba portar-se à mesa sem colar excrescências do nariz em forma de couve-flor no tampo, mas um lorde é um lorde e, com a crise que para aí anda, justificou naturalmente duas páginas panegíricas do jornal “A Bola”.
Para calar os críticos, à boa maneira da prática objectiva da casa, o jornal preocupou-se em ouvir teses favoráveis e o respectivo contraditório. Temos assim no artigo sobre o novo projecto de metodologia do treino do futebol do Benfica os técnicos envolvidos, que acham o projecto bestial, e gente ouvida por acaso no Caixa Futebol Coiso, que acha o projecto ainda melhor do que bestial, defendendo que, se existisse uma expressão ainda mais forte do que bestial, ou se existisse uma palavra que combinasse a sensação de “bestial” com “óptimo” não hesitariam em usá-la. Bóptimo, por exemplo.
Tomem lá, ó críticos dos media, que é para não dizerem que “A Bola” é parcial!
O lorde, na verdade, é só LORD, acrónimo de Laboratório de Optimização do Rendimento Desportivo. E, garante também o jornal, é bestial. Segundo “A Bola”, o AC Milan tem uma coisa parecida desde 2000, o que permite que “Maldini jogue aos 40 anos. Inzaghi marque golos aos 35 e Seedorf mover-se no meio-campo como se tivesse 22 anos”. Não diz o jornal, mas sublinho eu: felizmente que no Milan não se enganaram na programação desta bimby do treino, não fosse o Maldini teimar que só jogava até aos 22 anos e o Seedorf desatar a mover-se no meio-campo como se tivesse 40. Enfim, os italianos lá sabem mexer nos botões e programar a coisa.
Como nas boas demonstrações de detergentes e produtos capilares, o jornal apresenta dois estudos de caso, mostrando o “Antes” e o “Depois” da integração dos atletas no LORD. No primeiro caso (clicar nas imagens para obter maior definição), mostra-se Di Maria “antes” e “depois”. Eu reconheço que sou um leigo, mas, na verdade, comparei longamente as duas imagens e só detecto que, depois de treinar no LORD, os jogadores do Benfica aparentemente passam a vestir malhas da Colecção Outono. É verdade que o casaco é bonito e combina muito bem com o calção preto, mas cuido que é pouco. A não ser, claro, que a malha seja italiana, como a do Milan.
No segundo caso, ilustra-se David Luiz em Março de 2007 e na actualidade. Aqui, a mudança é mais radical: depois de um ano e nove meses de treino no LORD, David Luiz adoptou o penteado da Tonicha no final dos anos 1970! Eu não percebo muito de metodologia do treino. Ou de futebol. Ou de marketing. Sejamos francos, eu não percebo muito de quase nada. Mas, pelo menos comigo, a propaganda não resulta por aí além. Se me dissessem que, graças ao LORD, eu ganhava aquele hair styling, desatava a correr e só me apanhavam se chamassem o Pereirinha.
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O jornal resume, em caixa lateral, os três resultados imediatos da aplicação do LORD. Número 1: “Segundo a UEFA, o Benfica é a equipa com menos lesões da Europa”. Enfim, é o folclore do costume, mas admita-se que sim e vamos fingir que a UEFA não sabe do Suazo, do Aimar, do Martins, do Suazo, do Amorim, do Moretto, do Suazo...
Número 2: “Suazo recuperou de uma rotura muscular em 18 dias, quando o tempo normal de recuperação ronda as quatro a cinco semanas”. Tiro o meu chapéu. Sim, senhor. Bravo. E se o Suazo não estivesse outra vez na enfermaria com uma rotura, também tiraria o chapéu dele.
Número 3: “Di Maria ganhou oito quilos em dois anos e David Luiz mais 10 quilos num ano e meio”. Eu não quero ser desmancha-prazeres, sobretudo agora que Sporting e Benfica já se dão bem outra vez, mas não me parece uma proeza tão espectacular. É que nós, em Alcochete, temos o Rochemback, que pesa mais vinte quilos do que em Agosto, e não andamos a fazer esta algazarra.
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