Já é tarde.


Bono: U2 podem acabar em 2012


Teriam feito um grande serviço ao próprio legado se tivessem acabado logo após a tournée do Pop. Mas ainda vão a tempo de evitar lançar álbuns como os três últimos. Miseráveis.

A Guerra dos Mundos - para a posteridade.

Até sempre Maestro.


Esta tarde la sombra está que arde,
esta tarde comulga el más ateo,
esta tarde Antoñete (dios lo guarde)
desempolva la momia del toreo.
Esta tarde se plancha la muleta,
esta tarde se guarda la distancia,
esta tarde el mechón y la coleta
importan porque tienen importancia.
Esta tarde clarines rompehielos,
esta tarde hacen puente las tormentas,
esta tarde se atrasan los mundiales.
Esta tarde se mojan los pañuelos,
esta tarde, en su patio de las Ventas,
descumple años Chenel por naturales.

Joaquín Sabina

Em jeito de balanço de mais uma temporada tauromáquica. Relembrar Fialho de Almeida.






“Embalde alguns preciosos faniquentos, tomando por bondade de índole caquexias passivas de carácter, embalde eles tentaram pregar a selvajaria das touradas, explicando o entusiasmo geral por ferocidade de instintos, e sentimentalizando o boi com litanias românticas de chochinhas. Todas as almas foram surdas à mariqueria desses bolas, e às invectivas deles pedindo a proibição das corridas e a prorrogação ao touro das regalias que a Carta Constitucional garante ao homem, um desusado clamor fremiu das bocas, e as trinta e sete praças de Portugal encheram-se de gente, a aclamar fora de si touros e toureiros.”



Cortante, burlesco, indigesto, terror de “faniquentos” e “chochinhas”, eis Fialho de Almeida n’ “Os Gatos”, a propósito das tentativas de proibição do espectáculo tauromáquico. O escritor de Vila de Frades, que morreu faz agora um século, apreciava as corridas de touros e dedicou-lhe múltiplos escritos, nos quais expressou os seus pontos de vista sobre a sociedade portuguesa de finais do século XIX, com acutilância e inventividade linguística.




Seria Fialho dos aficionados que compareciam religiosamente aos domingos na praça do Campo de Santana e depois na do Campo Pequeno? Não se sabe. O certo é que a sua escrita sobre a matéria denota conhecimento de causa e agudeza de análise. O Fialho que escreve na revista “Sol e Sombra” sobre “O Problema Taurino”, não é um diletante, mas sim alguém que identifica certeiramente os males que corrompiam os festejos taurinos em Portugal - que não eram, bem vistas as coisas, muito diferentes dos que afligiam o País. As críticas do escritor alentejano ao ambiente tauromáquico e seus protagonistas acabam por ser uma extensão da crítica cerrada com que mimoseou a toda a sociedade do seu tempo.

Nos seus escritos taurinos, Fialho lamenta amargamente a decadência da bravura dos touros portugueses, equivalente ao declínio das elites nacionais. “As raças que há, tirante a Palha Blanco, afalcoam, e dizem os sabedores que a domesticidade secular lhes corrompeu o tipo, o sangue e o génio impetuoso, por uma civilização semelhante à que fez resvalar a cavalaria de Cristo do guerreiro san-graliano do século XIII, ao boticário eleitoral do século XIX”, escreve em “À Esquina”.

De toureiros não andávamos melhor. “Sangue toureiro, propriamente, não há”, proclama Fialho. “Essa efervescência selvática, que foi nos séculos heróicos de Portugal uma como derivante da vida máscula das viagens e das batalhas, sobras de força, esbanjadas pela mocidade em jogos atléticos e simulacros de combates, tem-se perdido quase por completo, desde que a aristocracia hipotecada e expulsa dos seus coutos, veio para a cidade aposentar os filhos em bêbados da Tendinha, fiscais da alfândega ou pretendidos de meninas ricas com avaria.” Denotando uma notável capacidade de antecipação, Fialho aconselha alguns aristocratas que toureavam como amadores a porem de parte preconceitos de classe e a profissionalizarem-se. António Perestrelo, Simão da Veiga ou Duarte Pinto Coelho, “lá poderiam, posto de banda o preconceito de que picar toiros é modo de vida humilhante, deixar pudores fictícios que os recluem num simples diletantismo, e entrar francamente na vida do trasteio, prestes a fazerem dela instrumento de glória e de fortuna.” O futuro deu-lhe razão: no século XX, o toureio mostrou-se incompatível com amadorismos, excepção feita aos forcados, e seguiu o caminho da profissionalização.

Aos forcados dedica Fialho palavras azedas. De facto, a grande maioria dos pegadores de touros do século XIX eram homens que viviam nas margens da sociedade e que encaravam a actividade apenas como forma de ganhar alguns cobres. Segundo o sociólogo José Machado Pais, os forcados pertenciam a uma "marginalidade socialmente integrada”, formada por “prostitutas, fadistas, marialvas, toureiros, boleeiros, vagabundos e marinheiros.” Alcoólicos muitos deles, arrastavam para as praças a decadência e a miséria que suportavam no seu dia-a-dia. Pelo contrário, para Fialho a pega devia ser uma mostra de masculinidade e destreza. “Em vez de oito borrachões injectados de estupidez, envelhecidos em tombos, fazendo vida de gladiadores sórdidos, e morrendo quase todos do deboche adstrito às semanas de ociosidade, por que não faremos das pegas um certame de vida máscula, com inscrição facultada a todos os rapazes destemidos, aos clubes de desportismo atlético, aos jovens ginastas e traga-balas da cidade?”

A questão dos touros de morte punha-se já no tempo de Fialho. Nesta matéria, a posição do autor de ”O País das Uvas” não deixa margem para dúvidas: é abertamente favorável à corrida integral. “Sorte de morte. Querem-na todos, e ninguém toma a iniciativa de pedi-la, e legiferante algum se atreve a decretá-la.” O “arremedo” da estocada, com uma espada falsa, “não estesia nem ergue o coração do espectador: é um desengano parecido com o de alguém que estando a ver ungir um sogro rico, súbito ressurge o tipo dentre os azeites bentos do padre – e adiada a herança para quando o tempo o permitir!” A culpa radicava na nossa “hesitação de não fazermos nada completo, nesta cobardia de, primeiro que nos abalancemos a qualquer coisa, cogitarmos no que dirá a opinião de nós, o estrangeiro, o homem da tenda, o vizinho”.

Mesmo assim, reconhecia Fialho, as corridas de touros “são o único espectáculo alegre do país, o único onde o português tem graça, e onde os seus instintos satíricos, tomando forma de insectos, por toda a parte vão mordendo os cachaços do ridículo, entre risadas e bromas de cair.”

Nádegas e mamas.




A «notícia» já é conhecida desde Março deste ano: um misterioso gang de «hackers» penetrou no sexy iPhone da Scarlett Johansson e encontrou duas nádegas e uma mama.

Em Março os «misteriosos hackers» tinham deixado cair na Internet a primeira foto – a da esquerda. Agora apareceu a segunda.

Um dos dilemas existenciais mais mencionados no confessionário do Google – Where can i find Scarlett Johansson nude pics? – foi finalmente solucionado.

Estas são apenas as primeiras nádegas, mas ninguém sabe quantas mais poderão surgir. Só na indústria do entretenimento fala-se em 100 nádegas «hackadas» pelo gang.

Chego a este número porque as notícias referem 50 actrizes com iPhones «martelados» e, se não me falha a matemática, cada uma deve ter pelo menos um par de assentos. É só multiplicarem cada rosto por dois e obterão o resultado certo em nádegas.

O FBI já anda à caça da história. As de Jennifer Lopez não constam na lista das nádegas mais procuradas pelos agentes do bureau, o que é uma pena. Tenho as nádegas da Jennifer em tal consideração que faria qualquer coisa pela oportunidade de uma observação mais cuidada – e isto inclui ouvi-la cantar.

Quando se mencionam as sagradas nádegas da Jennifer ou as generosas protuberâncias mamárias da Salma Hayek – só para dar quatro exemplos – convém sempre evocar as imortais e certeiras palavras de Francis Bacon: «Não há beleza perfeita que não contenha algo de estranho nas suas proporções».

O processo de imitar as fotos da Scarlett chama-se «Scarlettjohanssoning». Quem quiser participar… é aqui. O tipo que se lembrou deste meme é um génio do «link baiting», disso não tenho dúvidas.

Tudo é permitido.


Não poderíamos nunca, sem a ecologia, justificar a existência de duas fileiras de alimentação, uma saudável e biológica para os ricos e seus rebentos, a outra notoriamente tóxica para a plebe e seus descendentes, prometidos à obesidade. A hiper-burguesia planetária não saberia fazer passar por respeitável o seu rumo de vida se estes seus caprichos não fossem escrupulosamente “respeitadores do ambiente”. Sem a ecologia, ninguém teria ainda autoridade suficiente para fazer calar toda a objecção aos progressos exorbitantes do controlo. Rastreio, transparência, certificação, eco-taxas, excelência ambiental, polícia da água, auguram o estado de excepção ecológica que se anuncia. Tudo é permitido a um poder que toma a autoridade sobre a Natureza, a saúde e o bem-estar.
[...] O novo ascetismo bio é o controlo de si que é exigido a todos para negociar a operação de salvamento que o sistema se atribuiu a si próprio. É em nome da ecologia que será necessário apertar os cintos daqui para a frente, tal como o foi em nome da economia até aqui. A estrada poderia seguramente transformar-se em pistas de bicicletas, nós poderíamos mesmo, nas nossas latitudes, ser um dia recompensados com um rendimento garantido, mas apenas como prémio de uma existência inteiramente terapêutica. Aqueles que defendem que o auto-controlo generalizado nos poupará da submissão a uma ditadura ambiental mentem: um fará a cama para a outra e nós acabaremos por dormir com ambos. Enquanto houver o Homem e o Ambiente haverá sempre a policia entre eles.

A insurreição que vem, Lisboa, Edições Antipáticas, 2010

Cada país tem o seu massacre.


No Aventar: 

As balas são acessíveis, custam cerca de euro e meio por litro em qualquer gasolineira. As rajadas são traiçoeiras, feitas de ultrapassagens à segurança dos outros.

Dia após dia, cruzo-me com eles no asfalto de batalha. Têm pressa, mal podem esperar pelas importantíssimas insignificâncias que os esperam. Ontem encontrei um no IC19. Veio da esquerda, cruzou em diagonal três faixas, forçou a existência de um espaço à minha frente, para finalmente, já em cima do risco contínuo, enveredar por uma saída. Fiquei fascinado com tamanha proeza, plena de audácia e de destreza. No vídeo-jogo, em que aquele condutor vive, depois gastas as três vidas basta recomeçar. Mas na vida real que lhe parece ser estranha, game over traz sangue e lágrimas.

Cada país tem o seu massacre, seja pela mão de pessoa colectiva ou individual.



Amy

Nunca compreendi como era possível empurrar a Amy Winehouse para um palco em estados catastróficos de bebedeira, quando seria evidente o desastre. Ela era um freak show a explorar. As suas ocasionais humilhações em palco criavam buzz e publicidade gratuita, só isso explicava como agentes ou responsáveis pela sua carreira a deixavam expôr-se repetidamente nessas situações em vez de cancelar o concerto. Tinha o ar de ser uma pessoa totalmente à deriva do próprio talento e que este era também uma maldição. A morte dela não é uma surpresa mas talvez por isso mesmo seja mais triste ainda. Porque ninguém a salvou?






E valeu a pena porque o kill death ratio do Breivik foi de uns 80/0 e teria sido mais se os miúdos pudessem fazer respawn.


Há mais de 100 milhões de jogadores de consolas PS3 ou XBOX 360, mais outros tantos em PC em todo o mundo e pelo menos 80% serão homens que jogam a First Person Shooters o que dá uns 160 milhões de pessoas altamente treinadas em matança de noobs desarmados e encurralados.





Política de alianças.



Tempo houve em que a extrema-direita, no tempo em que respondia por nazismo e fascismo e usava camisas cor de morte, tinha no muçulmano um dos seus aliados dilectos. E esse tempo durou até depois, muito tempo depois, de terminada a II Guerra Mundial. Era necessário salvar muita gente e a Síria, o Líbano e o Egipto, entre outros, foram portos seguros. Eram os tempos do “judaísmo internacional” e também do nacionalismo árabe e da autonomia da Palestina e por isso muita Esquerda europeia assobiou para o lado e fingiu que não viu. Não tinha Molotov assinado um pacto com Ribbentrop? Os tempos agora são do “multiculturalismo” e da “colonização silenciosa da Europa”. E o “judaísmo internacional” já tem Estado. E está ali, cravado no meio. Para a Esquerda e para a Direita. Nada de novo, portanto.

[E a Esquerda sempre, mais rápida que a própria sombra, na procura da justificação e da causa das coisas, agora, que os criminosos sérvios estão todos sentados em Haia, nunca lhe passou pela cabeça vir aqui. Adiante…]

Apesar da crise, iluminação total na balança de transacções correntes.

Esta nova mesa de matraquilhos deve ser a única forma possível de treinar os seguintes jogadores: Moreira, Luisão, Carole, Jardel, Pereira, Amorim, Javi, Gaitán, Jara, Weldon, Saviola, Artur, Wass, Léo (?!), Almeida, Coelho, César, Matic, Pérez, Pinto, Mora, Nolito, Melgarejo, Oblak, Rosa, Simão, Ureta, Balboa, Rodrigo e Nelson (total de 30 efectivos), sendo que ainda existem dúvidas sobre se ligam a luz mais 13 (Garay, Ansaldi, Danilo, Romeu, Mangala, Dedé, Angel, Witsel, Sarabia, Ruiz, Damião, Ávila, Stracqualursi), e não ser ainda certo que outros 9 (Roberto, Roderick, Peixoto, Martins, Aimar, Salvio, Fernandez, Cardozo e kardek) desliguem ou não a luz.
Repare-se que entre estes 52 atletas só existe um com apelido começado em B de Benfica: o Balboa. É de facto muito estranho.

Eles procuram abrigo.

Nisto dos putos e das canções e gerações e protestos, estas coisas giras que ciclicamente acontecem com todas as gerações saudáveis, tenho visto exemplos de cinismo e maldade para com os putos e as suas manifestações.

Não gosto de ver essas personagens na minha própria geração (76), nem daí para baixo.

Admito isso nos velhos lógicos, senhores com alguma idade e com a 4ª classe, que têm uma visão do mundo formada pelo Correio da Manhã e que ligam para o Fórum TSF, ou nas tiazecas que vivem em microcosmos ou no Pacheco Pereira.

Mas não em pessoal de 30 e tal anos que cresceu a ouvir rock e com o Herman José e que ainda apanhou a Internet na universidade.

É legítimo e útil criticar as reivindicações, questionar a utilidade da manifestação, mas não o sintoma em si, não o carácter dos jovens, não o serem preguiçosos, baldas, mimados, desinteressados, decadentes, indisciplinados ou ignorantes... Pensemos antes que coisas como o eventual desinteresse de uma geração pode ser um sinal que o que existe agora é desinteressante e nós é que já estamos tão condicionados por esta merda que nem questionamos as coisas que nos obrigaram a engolir.

Às vezes acho que as pessoas fazem isso porque se sentem ressentidas de terem tido de abdicar dos seus próprios sonhos para se encaixarem em rotinas miseráveis e massacrantes, com as vidas pessoais subjugadas a empregos claustrofóbicos, em que grande parte do problema é precisamente aturar algumas pessoas da geração anterior, a que manda em nós e define regras por vezes absurdas e irracionais.

E muito menos, nunca, jamais, never, com o disparate de se considerar uma nova geração pior que a anterior, pior do que a própria.

A única coisa que pode haver é uma preciosa ingenuidade, comove-me que os putos estejam chateados. O cinismo ácido que tenho visto por aí... É na desconfiança da geração seguinte que reside o primeiro e mais grave sintoma de estar velho.

Para um puto entalado numa vida sem perspectivas, o primeiro verso de gimme shelter dos Stones é mais do que o primeiro verso de gimme shelter dos Stones


Yeah, a storm is threatening
My very life today
If I don’t get some shelter
Lord I’m gonna fade away



Adeus

E obrigado. 
Tudo o resto fica para depois.
Para já, ficam apenas as memórias boas. Especialmente aquelas que a fotografia ilustra.
Tudo o resto fica para depois.