José Sócrates de Carvalho Pinto de Sousa nasceu no Porto, nos últimos dias do Verão de 1957, filho de um esforçado carpinteiro de linhagem aristocrática e de uma santa mulher. Na noite do nascimento, a coberto da treva, os pais carregaram o plácido rebento sobre a albarda de um jerico e assim transpuseram as montanhas de Trás-os-Montes para o registar como filho legítimo de Vilar de Maçada, concelho de Alijó. Puseram-lhe o nome de um filósofo grego, desejando incutir no rapaz o desprezo pelos sofismas e o gosto pela argumentação. E viram satisfeitas as suas ambições. Aos dez anos, o pequeno viajava pelas aldeias vizinhas, debatendo com os aldeãos e fazendo-os perceber o erro das suas convicções. É celebre a ocasião em que convenceu o proprietário de uma junta de bois de que era, na realidade, o afortunado dono de uma parelha de dromedários, apenas porque os ditos bichos não reagiram quando lhes foi mostrado o retrato de um bandarilheiro e salivaram abundantemente perante ilustração das pirâmides de Gizé. Tamanha inclinação para manipular a percepção pública dos factos da forma que mais o favorecesse levou o jovem Sócrates a procurar realização pessoal na política, filiando-se no primeiro partido que lhe abriu as portas, o Socialista, enquanto ia argumentando e contra-argumentando o seu caminho por entre méritos académicos fictícios, conseguindo convencer alguns (poucos) de ser neurocirurgião e outros (muitos) de ser engenheiro civil. Integrado no grupo parlamentar do partido como arma secreta contra a oposição, recorrendo-se aos seus dotes de torpedo argumentativo apenas em ocasiões de extrema necessidade, conseguiu convencer António Guterres de que era o nome mais indicado para a pasta do Ambiente apenas oito minutos depois de o ter conhecido, narrando-lhe uma retorcida historieta sobre o viço da couve e sua relação com a densidade dos solos. Em 2005, nos bastidores de um debate televisivo, argumentou com Santana Lopes que a sua era maior que a dele e a insegurança assim provocada no opositor valeu-lhe a vitória eleitoral e o cadeirão de primeiro-ministro. Nos tempos livres, gosta de praticar desporto, treinar discursos inspiradores e optimistas ao espelho e jogar Tetris no seu Magalhães, dando contributo pessoal ao choque tecnológico.
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