O toureiro é um profissional itinerante. A sua actividade exerce-se em diferentes praças, muitas vezes separadas por longas distâncias. Como tal, para os toureiros, ter bons motoristas é tão importante como ter bons bandarilheiros. Nos milhares de quilómetros palmilhados pelas estradas, o homem do volante tem nas mãos a vida do seu maestro e acompanhantes, com os quais partilha os momentos de felicidade e de angústia.
Em 1958, a extinta revista «El Ruedo» publicou uma entrevista com o motorista do célebre Manuel Rodríguez Sánchez Manolete, de seu nome António Miguel Yedero, reproduzida pelo blog Aula Taurina de Granada.
O entrevistado confirma que Manolete era um homem taciturno e formal. «Falava muito pouco. (...) Falava-me com todo o respeito, o que me surpreendeu, porque eu tinha outra ideia dos toureiros.» Porém, Manolete também era capaz de rir a bandeiras despregadas com as graças dos seus amigos Carnicerito de Málaga e Curro de Villacusa.
Yedero começou por conduzir um Hispano-Suiza, comprado ao matador António Márquez. Depois Manolete comprou um carro mais moderno, o famoso Buick azul que a Espanha inteira conhecia. As viagens quase não lhes permitiam respirar. Após a corrida, o matador e a quadrilha tomavam uma refeição rápida e punham-se a caminho sem mais demoras. O trajecto mais longo que efectuaram foi entre Barcelona e Zafra, num total de 1120 quilómetros. Na estrada, os toureiros dormiam. Yedero era «alimentado» por Chimo, moço de espadas de Manolete, com café, conhaque e charutos...
Na temporada de 1947, a de Linares, Manolete «já não queria tourear». Mas «o seu pundonor, a sua vergüenza e a sua responsabilidade fizeram-no ceder à pressão das empresas». Após a colhida, o moço de espadas Chimo pediu a Yedero que fosse ao hotel buscar as estampas religiosas que acompanhavam Manolete. O motorista assim fez, mas já nada podia salvar o diestro da fatal cornada infligida por Islero. (Na imagem, Manolete assina autógrafos no seu Buick. Ao fundo, o apoderado Camará)
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