A coesão social por António Barreto.



«Certezas com as quais nascemos e vivemos são hoje restos de doutrinas impotentes. O Estado, como configuração política de uma nação e de uma vontade colectiva, é uma caricatura do que foi. O mercado, como lugar de troca, de progresso e de livre escolha, mais parece um embuste. Os direitos individuais, como fonte dos projectos colectivos, são quase esquecidos. Os direitos adquiridos, no que alguns têm de reserva de dignidade e de certeza, são cada vez mais considerados dispensáveis, obsoletos ou descartáveis. A relativa autonomia dos povos livres em combinação com uma razoável independência dos Estados nacionais: eis um equilíbrio delicado que está evidentemente hoje em mau estado. Estas realidades e estes valores estão em causa, fortemente em questão. Sabemos já que não permanecerão como sempre foram. Mas não fazemos a mínima ideia do que serão, naquilo que se transformarão. Não sabemos sequer se a transformação será um progresso. Aliás, esta última noção está ela própria em causa e as nossas gerações aprenderam, ao longo do século XX, que o processo histórico não é sempre progresso. Em tudo o que perdemos, em nome do progresso, incluem-se valores e tradições, culturas e liberdades, costumes e sentimentos cuja falta se faz sentir em permanência. A globalização, a metrópole, as massas, a rapidez, o automatismo, a competitividade e a uniformidade geraram valores contrários à comunidade humana, ao pensamento, à qualidade estética, ao brio e à compaixão. Nem sequer a dimensão do que se ganha é suficiente para esquecer o que se perde. Pode até ganhar-se mais, em proporção, do que se perde. Mas o que se perde é, muitas vezes, uma amputação de humanidade e de cultura.»

A ler na íntegra aqui: http://bit.ly/IMK61Q
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